Flamenco, a alma da Andaluzia
Quando ouvimos a palavra“flamenco“, pensamos numa definição que vai para além de um simples estilo musical. É um termo que nos liga à alma andaluza.
Para além de ser um tipo de música, canto e dança, é uma arte que conquistou pessoas em todo o mundo. O flamenco é paixão, é história, é tradição, é sentimento, é para muitos uma forma de vida.
Em 2010, o flamenco foi declarado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
O flamenco é definido como uma das manifestações artísticas mais ricas e diversificadas reconhecidas a nível internacional.
Diz-se que esta forma de arte nasceu no sudoeste de Espanha, sendo Granada uma das cidades andaluzas que desempenhou um papel importante na sua origem e desenvolvimento.
A origem do flamenco, uma mistura multicultural
Se falarmos de flamenco, temos de falar de miscigenação, uma vez que nasceu da mistura cultural entre muçulmanos, judeus, ciganos e cristãos que viviam juntos em certas zonas da Andaluzia no século XVI.
Embora se fale do famoso “Triângulo de Ouro” formado por Cádis, Jerez de la Frontera e o bairro de Triana, em Sevilha, não podemos ignorar a importância de Granada na transcendência do flamenco.
Por volta de 1425, começaram a chegar à Andaluzia grupos de ciganos que, após a conquista cristã de Granada em 1492, foram perseguidos da mesma forma que os judeus e os mouros.
Muitos destes ciganos reuniram-se nas zonas montanhosas de Sacromonte, em Granada, para se refugiarem, e aí começaram a fundir diferentes tradições musicais, dando origem a uma base repleta de melodias modais, ritmos e expressões que dariam origem ao cante jondo (canção profunda).
História do flamenco, de uma forma de arte clandestina à fama internacional
Durante centenas de anos, o flamenco viveu clandestinamente, transmitido oralmente no seio das famílias ciganas. A partir do século XVIII, começa a ter alguma presença em algumas vilas e cidades, especialmente em reuniões privadas da aristocracia andaluza, onde se realizavam algumas “juergas flamencas” (festas de flamenco).
No século XIX e no início do século XX, surgiram os cafés cantantes, estabelecimentos onde se organizavam espectáculos de flamenco num estilo descontraído, os artistas cantavam e dançavam e o público participava aplaudindo os artistas.
Neste contexto, a cidade de Granada foi coroada como o berço da arte do “jondo”, por ser uma cidade com grande afluência de turismo cultural durante o período romântico.
Sacromonte: o berço do flamenco por excelência História

Os ciganos que começaram a chegar à Andaluzia no século XV serviram no exército dos reis católicos, trazendo consigo os seus conhecimentos de armas e de cavalaria. Pouco a pouco,foram-se instalando no bairro de Sacromonte (onde já se encontravam os judeus e os árabes).
Sacromonte é um dos lugares mais emblemáticos de Granada e significa “Monte Sagrado” devido à crença de que aqui foram encontradas relíquias sagradas cristãs no século XVI. O mais notável de Sacromonte é o facto de ter grutas na rocha que serviram de refúgio e morada a estes ciganos e mouros expulsos do centro da cidade. Nas suas casas-caverna tinham um espaço onde podiam viver livremente a sua cultura, celebrar as suas danças e canções cheias de sentimento e vivacidade, ao ritmo das palmas das mãos e das guitarras.
La Zambra: a pureza do flamenco de Granada

A zambra é uma espécie de “juerga” que já era celebrada nos casamentos dos mouros no século XVI. O seu nome vem do árabe andaluz zamra, que por sua vez vem do árabe clássico “zamr”, que significa música ou concerto. A zambra era organizada clandestinamente, pois era perseguida pela Inquisição, mas conseguiu sobreviver e perdurar, sendo a origem do estilo de flamenco de Granada.
A caraterística da zambra é que neste estilo usa-se uma saia comprida, os pés das bailarinas estão descalços e dançam ao ritmo das castanholas, muito semelhante à dança do ventre.
Os ciganos de Sacromonte também incorporaram este estilo de dança nos seus casamentos, mas deram-lhe o seu toque pessoal, acrescentando-lhe “a sua arte” com vários pormenores, como por exemplo, para além dos pés descalços, usavam uma blusa com um nó abaixo do peito e uma saia comprida com pregas largas, que ficava à altura das ancas. Pouco a pouco, a zambra foi-se transformando no que hoje conhecemos como um puro espetáculo de flamenco de Granada.
A ascensão do flamenco coincide com a chegada do Romantismo
Granada começou a conhecer uma onda de escritores e viajantes românticos europeus durante os séculos XVIII e XIX, totalmente seduzidos pelo encanto de Granada. Nas grutas de Sacromonte, realizavam-se espectáculos de flamenco e este folclore começou a ganhar grande popularidade. Os ciganos, conscientes do grande interesse pelos seus espectáculos, organizavam espontaneamente espectáculos às portas das suas grutas, nascendo assim os conhecidos espectáculos de flamenco das grutas de Sacromonte.
Descobre os palos flamencos e a sua representação emocional
O flamenco engloba uma grande variedade de estilos conhecidos como palos, que estão ligados a diferentes emoções. Através de cada palo, o artista transmite os seus sentimentos, que podem ser de alegria, paixão, tristeza, desejo, entre outros.
Los palos del flamenco más conocidos son:
- Soleá: Muito emotiva, um estilo melancólico e profundo.
- Alegrías: Como o próprio nome indica, tem uma conotação mais eufórica, rápida e festiva.
- Fandangos: Estilo mais leve, melódico e rítmico, com grande liberdade interpretativa.
- Bulerías: Tem um toque festivo, rápido e com uma estrutura improvisada.
- Malagueñas: Lento, melódico e profundo da parte oriental de Espanha.
- Granaínas: um palo originário de Granada, não tem uma métrica fixa, é mais livre mas profundamente emocional.
Figuras lendárias do flamenco de Granada
Granada tem os seus números populares de flamenco, tais como:
María la Canastera

Foi pioneira na popularização das zambras ciganas junto do grande público. Foi uma dançarina muito famosa em Sacromonte entre os anos 50 e 60. Chegou a receber celebridades internacionais na sua gruta.
Rafael Fajardo “El Piki”
El Piki é um conhecido bailarino e coreógrafo de flamenco. Dirigiu espectáculos e, com a sua mestria, formou várias gerações de bailarinos.
La Gazpacha

Pertence à família Amaya (atualmente diretora do Tablao Flamenco Albayzín), uma cantora de flamenco muito conhecida em Sacromonte em meados do século XX. Tinha um apelido peculiar, algo muito típico na cultura flamenca.
Curro Albaicín

Cantor, poeta e defensor das tradições zambra e flamenca do Albaicín e do Sacromonte.
José Ferrer “El Niño de las Almendras”

Cantor flamenco de Granada, nascido no início do século XX. Não era muito conhecido localmente, nem muito fora da Andaluzia. Tinha uma voz expressiva, com muito sentimento.
O flamenco estará sempre ligado a uma arte do povo e, por esta razão, artistas da geração de 1927, como Federico García Lorca e o compositor Manuel de Falla, organizaram o primeiro concurso de canto flamenco, que se realizou em 1922 em Granada.
Flamenco e Granada, uma ligação eterna
Granada é, e provavelmente sempre será, uma cidade ligada ao flamenco. Atualmente, turistas de todo o mundo visitam a cidade em busca do puro flamenco nas grutas de Sacromonte e nos tablaos flamencos espalhados pela cidade.
Las zonas clave dónde encontrar espectáculos flamencos en Granada son:
- Sacromonte.
- Albaicín.
- Centro histórico.
Assistir a um espetáculo de flamenco é uma atividade obrigatória para todos os que visitam a cidade de Granada. De facto, diz-se que “se vieres a Granada e não vires um espetáculo de flamenco, não viste nada”.
Workshops e formação de flamenco em Granada
Granada conta também com uma grande quantidade de escolas especializadas em canto, dança e guitarra flamenca. É também um ponto de referência em termos de artesanato, pois aqui são fabricadas muitas guitarras flamencas de qualidade inigualável. A cidade é um ponto de referência para todos os interessados nesta arte folclórica, tanto locais como estudantes internacionais.
Podemos dizer que Granada é, sem dúvida, uma cidade que desempenhou um papel importante na origem e transcendência do flamenco.
Granada tem sido um berço desta cultura desde o seu aparecimento nas zambras de Sacromonte até aos dias de hoje, com espectáculos de flamenco contemporâneo. É uma forma de arte que conseguiu manter a sua essência durante séculos, apesar da sua clandestinidade e perseguição ao longo da história.
Hoje continua a emocionar aqueles que têm o privilégio de o experimentar.
O flamenco faz parte da história de Granada, haverá sempre uma ligação muito forte. E se leste isto e ainda não viste um espetáculo de puro flamenco, de que estás à espera? Como todas as grandes manifestações artísticas, compreende-se melhor quando se experimenta.